"Queremos sempre ganhar tudo"

A velocidade a que nada não é a da luz, mas garante a Madalena Lousa uma vantagem nítida sobre as adversárias, no polo aquático. Muito rápida, a ponta-esquerda do Benfica é um trunfo que a equipa sabe explorar. Foi a melhor marcadora da equipa hexacampeã nacional, com 98 golos na época passada, como já tinha sido, em anos anteriores, a melhor marcadora do Europeu de Sub-19 e, um ano mais tarde, melhor marcadora do Mundial de Sub-20.

Não perdeu o hábito de brilhar em grandes competições e em datas memoráveis, e, há alguns meses, foi uma das melhores marcadoras da seleção nacional que conquistou um brilhante apuramento para o Campeonato da Europa.

Ou seja, nas seleções ou no Benfica, Madalena Lousa comprova a sua qualidade e reforça o seu estatuto de uma das mais fulgurantes jogadoras portuguesas de polo aquático. É uma predestinada, que se estreou com 16 anos na equipa principal do Benfica e se tornou, aos 22, numa reserva moral no balneário.

Foi a convidada do programa Protagonista, da BTV, e as linhas que se seguem são o resultado de uma conversa em estúdio, e ainda de outras confidências feitas já com as luzes desligadas.

BENFIQUISTA DE BERÇO

"Posso dizer que sou Benfiquista desde pequena, porque o Benfica sempre me atraiu, sou de uma família onde todos são Benfiquistas, e muito por influência do meu avô, que me levava ao estádio. Gosto muito do Benfica, do futebol, das modalidades, que acompanho, e sinto-me muito completa sendo jogadora do Clube. No polo aquático, não posso dizer que visto a camisola, mas sim o fato de banho, mas a camisola do Benfica, quando vou acompanhar os jogos de algumas das nossas equipas, do futebol e modalidades, assenta-me muito bem. Adoro o nosso símbolo e, claro, traz-me memórias bonitas de quando o meu avô me acompanhava e me ensinava os valores deste clube."

JOGAR NO BENFICA

"Vir para o Benfica, na altura com 16 anos, só não foi um choque maior porque era algo que eu desejava muito. Mas, como vim diretamente para a equipa principal, acabou por ser algo que necessitou de um período de adaptação. As jogadoras mais velhas do plantel foram incríveis, ajudaram-me imenso, e foi bom, porque fiz parte de todo o projeto do Clube de conquistar a hegemonia nacional. Começámos a ganhar, e já vamos no hexa, o que demonstra o trabalho que temos realizado. O Benfica é, atualmente, um clube de referência em Portugal, e também começa a ser de referência na Europa. Pelas condições que oferece, pelos títulos que tem conquistado e que quer continuar a conquistar. Temos esses objetivos sempre em mente, e o nosso treinador não permite que relaxemos, porque se trata de alguém que tem uma mentalidade muito vencedora e nos consegue transmitir essa mentalidade."

IDENTIDADE PRÓPRIA

"Acho que uma das vantagens da nossa equipa é que o Benfica e o seu treinador conseguiram criar, nos últimos anos, uma identidade própria de jogo e, sobretudo, uma identidade que é partilhada por todas nós. Somos uma equipa muito competitiva, que se vai renovando, mas mantendo sempre uma base que nunca permite que a equipa baixe os braços ou possa adormecer em cima dos títulos. É uma equipa de jogadoras novas, com algumas outras com maior experiência, e eu, com 22 anos, já posso dizer que sou uma das jogadoras há mais tempo na equipa. E tento passar os valores do Clube, da equipa, às jogadoras mais novas, que vêm da formação ou vêm de outros clubes para se juntar a nós. É importante haver quem faça esse trabalho e dê continuidade ao trabalho que outras fizeram. Foi isso que me fez crescer, aqui, no Clube, porque tive jogadoras mais velhas que me receberam, muito nova, me ensinaram e me enquadraram na filosofia do Clube e da equipa."

JOGAR EM FAMÍLIA

"O Benfica aposta muito nas jogadoras que forma. Eu cheguei com 16 anos, vinda do Cascais, mas há jogadoras jovens que começam e crescem no Benfica. Tenho uma irmã mais nova que está a passar por essa experiência. Já treina connosco, porque na época passada não houve competição dos Sub-23, e várias jogadoras mais novas já treinaram connosco e jogaram na equipa principal. A minha irmã foi uma delas, e foi a forma de o Benfica lidar com a falta de competição para essas jogadoras mais jovens. Este projeto, desde há vários anos, mantém-se vencedor, porque tem apostado no talento que vai formando. O Benfica faz um trabalho incrível de formação, e várias jogadoras do nosso plantel vêm dos escalões mais novos do Clube. E vão continuar a chegar à equipa jogadoras da nossa formação, porque há jovens jogadoras de muita qualidade a aparecer."

APOIO DOS PAIS

"Foi fundamental o apoio dos meus pais, e ainda hoje continua a ser para mim e para a minha irmã. Não seria fácil a logística de vir treinar a Lisboa, a horas tardias, quem vem de Cascais, não tendo a estrutura familiar que eu tive e ainda tenho. Agora, para mim, as coisas são um pouco mais fáceis, porque ganhei autonomia nas deslocações, sou mais velha e tenho maior capacidade para gerir o meu tempo, entre clube, universidade e casa. Mas, lá está, sem o acompanhamento dos meus pais, que se mantém, não teria sido possível. Agora, também os ajudo, em relação à minha irmã mais nova, mas sentimos que sem esse apoio dos nossos pais não estaríamos onde estamos."

MELHOR MARCADORA DO CAMPEONATO

"Sinceramente, não valorizo muito o facto de ter sido a melhor marcadora do Campeonato, como não valorizo o facto de ter sido a melhor marcadora do Campeonato Mundial de Sub-20 ou do Europeu de Sub-19. Marquei, no Campeonato, 98 golos, mas posso garantir que não teria marcado um único desses golos sem a ajuda das minhas colegas de equipa, que, mais do que colegas, são minhas amigas. Esse é o nosso espírito. Sou uma jogadora rápida, e talvez isso me dê uma certa vantagem em jogo. Mas, se eu consigo finalizar muitas das nossas jogadas de ataque, é bom lembrar que, antes de chegar aí, existe todo um trabalho coletivo de recuperação de bola, de organização e de passe. Porque eu não passo a bola a mim própria. Para finalizar as jogadas, tenho de receber a bola de uma colega minha, e, com a qualidade que existe na equipa, fica mais fácil, para mim, marcar tantos golos."

AMBIÇÃO EUROPEIA

"Creio que o Benfica tem essa ambição, de estar nas principais competições europeias, nos próximos anos. Neste ano não vamos participar na Challenger Cup porque acreditamos que já estamos num nível acima, mas ainda não estamos num patamar de Liga Europa ou Champions. Neste ano, vamos participar na Nordic League, onde encontraremos equipas do nosso nível, umas melhores, outras um pouco abaixo do nosso nível, mas será uma competição que queremos ganhar e onde vamos encontrar equipas de um nível superior ao que encontramos em Portugal. É uma competição que queremos ganhar, mas também queremos aproveitar para crescer, num ambiente que não conhecemos, com adversárias que também não conhecemos. Na Europa do Norte, o polo aquático também não é profissional, mas existem equipas muito competitivas. Será um torneio excelente para nós, e, como somos o Benfica, vamos participar com o intuito de o vencer."

GANHAR TUDO

"Ganhámos tudo, a nível interno, na época passada, e os objetivos não se alteram de ano para ano. Queremos mais, queremos sempre mais. Em outubro vamos disputar a Supertaça, e será a primeira competição nacional que queremos conquistar. Depois, no Campeonato e na Taça, é a mesma coisa. Ganhar, ganhar e ganhar. Não há outra forma de estar no Benfica e nesta equipa."

Artigo publicado na edição de 12 de setembro do jornal O Benfica