Entrega e personalidade não se traduziram em pontos

A equipa feminina de futebol do Benfica ofereceu nesta quinta-feira, 16 de outubro, uma excelente réplica ao Arsenal, mas não conseguiu somar pontos (0-2), na 2.ª ronda da fase de liga da UEFA Women's Champions League.

O Estádio da Luz vestiu-se de gala para o embate entre as pentacampeãs nacionais e as campeãs europeias em título, que regressaram a Lisboa, palco da conquista da edição transata da competição.

Escolhidas para o onze inicial, Lena Pauels, Catarina Amado, Diana Gomes, Christy Ucheibe, Marit Lund, Beatriz Cameirão, Carolina Tristão, Anna Gasper, Lúcia Alves, Caroline Møller e Diana Silva foram ovacionadas pela grande maioria dos 7 218 espectadores e, desde o apito inicial, a equipa de Ivan Baptista destacou-se pela garra e pelo rigor tático.

Unidas e solidárias, as Inspiradoras fecharam os caminhos para a sua baliza e, só aos 18', surgiu o primeiro lance de perigo: Beth Mead rematou por cima da barra, na marcação de um livre.

No ataque, Caroline Møller funcionava como pivô e tentava explorar a velocidade de Lúcia Alves e Diana Silva nas alas. Num desses lances, aos 23', a internacional dinamarquesa trabalhou bem no meio-campo e fez um excelente passe a rasgar para Diana Silva, que galgou metros e rematou à figura de Daphne van Domselaar.

O Arsenal continuou a dominar territorialmente, mas sem acertar na baliza à guarda de Lena Pauels. Aos 30', Wubben-Moy surgiu desmarcada ao segundo poste e cabeceou ao lado e, aos 37', Christy Ucheibe intercetou um disparo perigoso de Beth Mead.

Nos minutos finais da 1.ª parte, o Benfica surgiu mais subido, com mais confiança e com mais bola. E, aos 41', dispôs da sua grande oportunidade para marcar. Na sequência de um livre lateral marcado por Anna Gasper, Diana Gomes cabeceou colocado e obrigou a guarda-redes do Arsenal a uma grande intervenção.

No regresso do intervalo, a partida manteve-se na mesma toada, mas, aos 57', um erro das águias precipitou o desbloquear do marcador. Kyra Cooney-Cross intercetou um passe de Diana Gomes, lançou Alessia Russo pelo lado direito e esta tocou para Mariona Caldentey, que cruzou para o coração da área. Beatriz Cameirão, primeiro, e Diana Gomes, depois, não conseguiram afastar a bola da zona de perigo e Beth Mead, no chão, acabou por empurrá-la para as redes, no culminar de um lance confuso.

Após o 0-1, Ivan Baptista recorreu ao banco e lançou Chandra Davidson (60') e Cristina Prieto (70') nos lugares de Carolina Tristão e Marit Lund, respetivamente. Com peças mais frescas e maior presença no ataque, o Benfica voltou a aproximar-se da área das londrinas, mas sem conseguir visar a baliza adversária.

Aos 80', tripla substituição do lado das águias: Caroline Møller, Diana Silva e Beatriz Cameirão deram lugar a Carissa Boeckmann, Lara Martins e Letícia Almeida. Esta última, aos 83', testou a pontaria de muito longe, num remate que saiu por cima e assustou Daphne van Domselaar.

Com as Inspiradoras balanceadas no ataque à procura do empate, o Arsenal recorreu ao laboratório para chegar ao 0-2, aos 89'. Num livre lateral descaído para o lado esquerdo, Chloe Kelly surpreendeu com um cruzamento rasteiro para o coração da área, onde surgiu Alessia Russo para atirar a contar.

Lutando até ao fim por outro resultado, o Benfica esteve perto de reduzir no período de descontos. Na sequência de um pontapé de canto, Christy Ucheibe cabeceou para defesa incompleta da guardiã do Arsenal, que se recompôs a tempo de travar a recarga de Diana Gomes à queima-roupa.

O final da partida não demorou a chegar e o público, com uma sonora ovação, reconheceu a entrega das Inspiradoras num duelo de alto grau de dificuldade.

Cumprida mais uma etapa da caminhada europeia, o Benfica regressa às competições internas às 11h00 do próximo domingo, 19 de outubro, na casa do Marítimo, em duelo válido para a 1.ª jornada do Grupo A da Taça da Liga.

DECLARAÇÕES

Ivan Baptista (treinador do Benfica): "Acho que ficou aos olhos de toda a gente que disputámos o jogo olhos nos olhos com a campeã da Europa, até ao último minuto, até ao último lance. Não é normal fazer com que a campeã da Europa perca tempo como [a equipa do Arsenal] fez. Isso demonstra um bocadinho aquilo que eram as sensações delas dentro do campo, e, também, as sensações de quem estava aqui no Estádio: de que o Benfica podia ter tirado mais deste jogo. Um jogo que foi decidido em detalhes, um jogo em que nós conseguimos manter a nossa personalidade, e acho que é muito por aí que tiramos as coisas positivas. O orgulho de conseguirmos ter jogado, o orgulho de conseguirmos ter jogado olhos nos olhos com uma potência mundial, contra algumas das melhores jogadoras do mundo, e não nos subjugando a defender, ou a não querer assumir o jogo, ou a não querer disputar o jogo. Tal como dissemos que o iríamos tentar fazer, tal como o fizemos em Itália, contra a Juventus, contra equipas poderosas, percebendo o poderio que está do lado de lá; percebendo as cautelas que temos de ter, sabendo defender bem e, depois, nos momentos em que conseguíamos ter bola, também termos personalidade. [Estratégia para o jogo] Tentámos ter bola, tentámos assumir, tentámos desbloquear uma pressão do Arsenal. Tivemos carácter, tivemos personalidade. Bater bola na frente, não vi. Vi, claro, quando é preciso, quando não temos soluções curtas e não precisamos de perder bolas desnecessariamente. O Arsenal também o fez. Por ser isso, é um jogo de futebol. Há momentos em que temos soluções a jogar curto, há momentos em que temos soluções a jogar médio, porque temos jogadoras sozinhas, porque as dinâmicas permitiram criar espaços numa segunda linha. Foi muito por aí. Colar o rótulo de que nós estivéssemos a bater bola, discordo a 100%."