"Temos a identidade Benfica"

Na recente discussão da Supertaça de voleibol, Alice Clemente, zona 4 do Benfica, tornou a distinguir-se como uma das jogadoras mais decisivas. Durante a conversa que mantive com ela, em mais uma edição do programa Protagonista, alertei-a para a normalidade que começam a ser as suas categóricas exibições frente ao Sporting.

De forma mais ou menos envergonhada, Alice acabou a reconhecer que os dérbis são jogos diferentes e que mexem com ela, também de uma forma que traz uma motivação extra. E quando olho para os seus números, nessa final, compreendo tudo.

Nesse encontro, Alice Clemente somou 12 pontos, 1 ás e teve uma eficácia de 85% na receção. Números impactantes numa final que o Benfica venceu de uma forma clara e arrasadora.

O VÍCIO DE GANHAR

"Era importante, para nós e para o Benfica, começar a nova temporada da mesma forma que terminámos a anterior: a ganhar. Somos a equipa campeã e, na Supertaça, começámos a defender esse estatuto. E frente a uma das equipas que também são candidatas ao título e investiram para a nova temporada. Por todas estas razões, a vitória na Supertaça foi importante, para nós e para demonstrarmos a toda a gente que não fomos campeãs por acaso. Estamos a criar esse vício na equipa, o vício de ganhar, e não queremos parar."

O SABOR A DÉRBI

"Já me disseram que faço bons jogos contra o Sporting, e este foi mais um jogo que me correu bem. Mas mais importante é que o jogo tenha corrido bem à equipa. E a verdade é que desde o início o jogo nos saiu bem, tivemos uma entrada muito forte, e o jogo decorreu de uma forma que ninguém esperava, porque a nossa vitória foi incontestável, foi muito clara. Sobre a minha exibição, é verdade que, contra o Sporting, é uma rivalidade diferente, e eu levo isso para o campo. A atmosfera é diferente, mas eu não quero jogar bem só contra o Sporting. Quero jogar bem contra todas as equipas."

A BASE DE TUDO

"A equipa, neste ano, mudou um pouco, com a saída de algumas jogadoras e a entrada de outras, mas há algo que não muda. Há uma base de jogadoras, que são do Benfica, são da formação do Clube, como eu, a Mariana e a Joana [Garcez], e que ajudam a manter uma identidade que está criada nesta equipa. Somos jogadoras novas, mas com vários anos de Benfica, e é isso que transmitimos a quem chega de novo. É muito importante que essa identidade seja apreendida pelas novas jogadoras, porque a qualidade que elas têm faz o resto. E a verdade é que as jogadoras que chegam ao Benfica apercebem-se rapidamente da grandeza do Clube. Chegam aqui, veem o estádio, os pavilhões e toda a estrutura que acompanha os atletas, e a adaptação faz-se rapidamente."

A PRÉ-ÉPOCA

"Não nos correu muito bem a pré-época, mas é para isso que ela serve. Para errarmos, para nos testarmos, para evoluirmos. Foram semanas de trabalho muito intenso, com alguns resultados que não são o que queremos para nós. Mas há uma diferença entre preparar uma nova temporada e preparar um jogo. Foi isso que fizemos na semana antes da Supertaça, preparámos muito bem o jogo com o Sporting e demos a imagem do nosso valor e da nossa qualidade. Agora, é manter esse nível e ir evoluindo, porque estamos ainda no início da temporada, e a equipa ainda vai melhorar imenso."

NOVO TREINADOR

"Havia expetativa, entre as jogadoras, de perceber como seria o novo treinador e as coisas novas que iria trazer. Ganhámos o Campeonato, e a mudança de treinador criou a expetativa de que as coisas pudessem mudar. Mas a verdade é que a identidade que está criada nesta equipa ajudou bastante neste período de transição. E o treinador é uma pessoa muito tranquila, que também está a adaptar-se ao voleibol feminino, porque sempre treinou no masculino, mas é alguém que nos compreende e que vai ajudar-nos, com as suas ideias, a tornar a equipa ainda mais forte."

ALTOS INVESTIMENTOS

"Quando estamos na quadra, não perdemos tempo a pensar se a equipa que está do outro lado investiu muito ou pouco. Sabemos que há clubes que estão a investir mais que o Benfica, já foi assim na época passada, mas não foi isso que impediu que fôssemos campeãs. São números, mas não jogam. O que nós fazemos é desfrutar, de jogar no Benfica, de sermos campeãs e de o voleibol feminino ser levado muito a sério pelos clubes. Qual é a outra modalidade de pavilhão que tem equipas do Benfica, do FC Porto, do Sporting, do SC Braga e do Vitória SC? Os investimentos nas equipas são cada vez maiores, mas isso não nos assusta, pelo contrário, motiva-nos. Mas, no final, estamos aqui para jogar voleibol e para defender o nosso escudo de campeãs."

RICO PLANTEL

"Temos um excelente plantel, onde a competitividade entre as jogadoras é grande. O plantel é profundo, e, se não tivermos muitas lesões, como nos anos anteriores, vamos ter duas jogadoras de qualidade semelhante para todas as posições. O Benfica reforçou-se muito bem, com jogadoras de muita qualidade que se juntam a outras que já cá estavam e que foram determinantes na conquista do título. Ainda agora, frente ao Sporting, ficaram de fora jogadoras que serão muito importantes durante a temporada. Penso que a qualidade média do plantel subiu, e temos a equipa preparada para lutar pela conquista de todos os títulos. O objetivo é esse, ganhar tudo."

MADE IN BENFICA

"O futuro está assegurado no Benfica. Além das jogadoras que vieram da formação e que já estão na equipa principal e a terem impacto na equipa, há mais talento na formação que, mais tarde ou mais cedo, vai chegar à equipa principal. Durante a temporada passada, sobretudo quando tivemos algumas lesionadas, várias jogadoras da formação treinaram connosco, e ainda treinam, por vezes, e sentimos isso, que há jogadoras que vão chegar lá, como nós chegámos. E isso é importante para manter a identidade da equipa alinhada com a do Clube. As condições que o Clube oferece são de nível mundial, e isso é dito por toda a gente que chega ao Clube, e as jogadoras mais novas, quando chegam à equipa, já vêm preparadas para esse desafio."

AS NOVAS MARIAS

"Sinceramente, há quatro anos, quando ainda estávamos na 2.ª Divisão, ninguém esperava que o sucesso chegasse tão cedo. Foram quatro anos em que conseguimos queimar muitas etapas. Subimos de divisão, logo no primeiro ano no escalão principal disputámos as meias-finais do playoff, e aí percebemos que era possível. Nesse ano, ainda ganhámos a Taça de Portugal, e na época passada sentimos, desde o início, que era possível. Mas tudo isto é um sonho que se está a concretizar mais cedo do que imaginávamos. Agora vem a parte mais difícil, que é mantermo-nos no topo. Somos a equipa campeã e somos a equipa que todos querem bater."

PV COLÉGIO EFANOR A SEGUIR

"É uma das boas equipas do nosso campeonato, nos últimos anos, com a ascensão e o investimento dos grandes clubes, perdeu algum espaço, mas será sempre um adversário muito complicado, muito aguerrido e que estará na luta pelos primeiros quatro lugares da classificação. Vai ser o nosso primeiro jogo em casa, e por isso espero as bancadas com muitos adeptos do Benfica, porque isso tem sido um dos aspetos que realço mais do nosso crescimento. Há quatro anos, as bancadas estavam sempre muito despidas, hoje já não é assim, temos as bancadas cheias, porque as pessoas gostam de nos ver, confiam em nós e sabem que vêm assistir a um bom espetáculo. E o PV Colégio Efanor é uma daquelas equipas chatas, com uma defesa baixa impressionante, é difícil colocar-lhes a bola no chão. Acredito que vai ser um grande jogo, e, claro, queremos oferecer a vitória aos nossos adeptos."

Artigo publicado na edição de 17 de outubro do jornal O Benfica