Voleibol Feminino

21 novembro 2025, 12h46

Mayara Barcelos

Mayara Barcelos

Quando recebeu o irrecusável convite do Benfica, Mayara Barcelos sentiu que o destino europeu que pretendia dar à sua carreira estava a bater-lhe à porta, com estrondo. Não se descuidou com a ilusão de representar um grande clube mundial e procurou aconselhamento na família e particularmente com o irmão, jogador profissional de futebol.

Antigo jogador do Santa Clara, Matheus Babi não foi nada discreto na forma como incentivou a irmã a aceitar o convite do Benfica. Descreveu o Clube como o maior de Portugal e um dos melhores do mundo. Na prática, só lhe faltou assinar contrato pela irmã, tão entusiasmado se mostrou.

Brevemente, estará em Lisboa e pretende assistir a um jogo no Estádio da Luz, mas, por agora, continua a incentivar a irmã, à distância, enquanto Mayara vai impondo a sua batida forte e um ataque demolidor, na zona 4, a sua preferida, ou como oposta.

Nesta semana, conversei com ela, em estúdio, no programa Protagonista, da BTV, e fora dele e encontrei uma mulher feliz, afável, mas com as ideias arrumadas de uma forma minuciosa e resoluta.

Mayara Barcelos

"O Benfica é um mundo e não é só futebol. É um clube que tem uma estrutura física que nos esmaga. Mas, depois, tem uma estrutura humana muito acolhedora"

Mayara Barcelos

TALENTO PRECOCE

"Fui campeã sul-americana de sub-18, com apenas 15 anos. Foi uma sensação incrível, mas tive a ajuda das minhas colegas mais velhas. Foi a partir daí que eu disse a mim mesma que era isto que eu queria para mim. Essa vitória, numa competição tão importante, sendo eu tão nova, deixou-me com a confiança de que poderia tornar-me, mais tarde, uma profissional de voleibol. Num país onde, nos últimos anos, o investimento tem sido muito significativo na liga profissional de voleibol feminino. Então, depois deste sucesso, percebi que podia ir atrás do meu sonho. Com apenas 15 anos, vencer o Sul-Americano foi especial e despertou em mim algo que me fez acreditar."

VITÓRIA NO PAN-AMERICANO

"Depois da vitória no Sul-Americano, com 15 anos, ganhei o Pan-Americano, com a seleção do Brasil de sub-23. Eu tinha 20 anos, era, de novo, a caçula da equipa, mas desta vez estava mais amadurecida e já estava entrando no profissional, no meu clube, o Fluminense. Foi um torneio que me correu superbem, porque fui considerada a melhor jogadora do torneio e fui, também, a melhor marcadora. Em poucos anos, venci dois dos torneios mais importantes de seleções na América, nas categorias de base, e isso foi alimentando o meu sonho de me tornar, um dia, jogadora da seleção principal."

O SONHO DO ESCRETE

"Qualquer jogadora que se torne profissional de voleibol, no Brasil, tem esse sonho de jogar pela seleção principal. Eu tenho e sinto que já estive perto de o conseguir. Tenho 24 anos e já alcancei vários objetivos na minha carreira, sendo campeã sul-americana e americana, nas categorias de base, e fui campeã nacional, na época passada, pelo Osasco. E, atualmente, jogo num dos maiores clubes do mundo. Então, não há como não sonhar. Vou continuar a evoluir, e acredito que lá chegarei e vou conseguir disputar uma Olimpíada pelo Brasil, estar em Campeonatos do Mundo."

O BENFICA DÁ UMA AJUDA

"Vir para o Benfica faz parte de um outro sonho que eu tinha, de vir para a Europa, de fazer carreira na Europa, de me testar a mim própria, de jogar na Liga dos Campeões. Creio que me vou tornar numa jogadora melhor, jogando nessa competição, onde estão muitas jogadoras brasileiras que vão à seleção. Vou cruzar-me com elas, vai ser um desafio para mim. E fazê-lo pelo Benfica, que é um clube que todos conhecem, em todo o mundo e que no Brasil é bastante reconhecido, eu acredito que me deixa mais perto de chegar à seleção do Brasil."

Mayara Barcelos

"Aquela união que se vê em campo começa no grupo, cá fora, porque somos muito unidas"

O CONVITE DAS ÁGUIAS

"Mexeu muito comigo. O meu irmão é jogador de futebol e já jogou em Portugal, no Santa Clara. Ele conhece Portugal e sobretudo conhece o Benfica. Jogou no Estádio da Luz. Quando soube do convite que eu tinha do Clube, disse-me logo que eu não podia recusar, porque se tratava do maior clube de Portugal e de um dos maiores clubes da Europa. Falou-me muito bem de Portugal, que eu ia adorar, e isso tornou a minha decisão muito fácil de tomar. E a verdade é que o meu irmão tinha razão. O Benfica é um mundo e não é só futebol. É um clube que tem uma estrutura física que nos esmaga. Mas, depois, tem uma estrutura humana muito acolhedora. O meu irmão vem a Portugal passar o Natal comigo e já me disse que pretende assistir a um jogo do Benfica, no Estádio da Luz. Atualmente, ele joga no Juventude, atuou no Botafogo há uns anos, e esteve muito perto de assinar pelo Palmeiras, de Abel Ferreira."

A FÁCIL ADAPTAÇÃO

"Pensei que ia ser muito pior. Claro que agora vem a parte mais difícil, que será o frio. Para mim, frio é 20/21 graus [risos]. Mas tem sido uma experiência incrível. Vivo num prédio que é uma espécie de residência universitária, mas para atletas do Benfica. Estou no apartamento com algumas colegas, e tudo tem corrido muito bem. O grupo é maravilhoso, todas as jogadoras se dão bem, mesmo que, por vezes, tenhamos algumas dificuldades na comunicação, mas sempre damos um jeito. Aquela união que se vê em campo começa no grupo, cá fora, porque somos muito unidas."

DERROTA COM O FC PORTO

"Foi uma derrota que doeu, mas não ficámos muito tempo a pensar nela, porque, logo a seguir, tivemos os jogos de qualificação para a Liga dos Campeões. Então, não houve muito tempo para lamber feridas. Não foi um jogo que nos correu muito bem, mérito para o FC Porto, que tem uma grande equipa, mas no próximo estaremos melhor. Como estivemos com o Sporting, que também tem um grande elenco, mas não teve hipóteses connosco, porque estivemos num grande dia. A liga portuguesa é muito competitiva, mais até do que eu imaginava, as equipas estão a investir muito, e está a acontecer o mesmo que aconteceu no Brasil e está a acontecer em países como a Itália. O voleibol feminino está a ganhar espaço ao masculino."

GANHAR TODOS OS TÍTULOS

"Foi das primeiras coisas que me disseram quando cheguei ao Clube. Além das boas-vindas, fiquei logo a saber quais são os objetivos desta equipa e que são os mesmos de qualquer equipa do Benfica. Há aqui uma cultura de vitória que me impressionou, e o objetivo é muito claro. Ganhar os títulos todos em Portugal e estar na Liga dos Campeões [CEV Women Champions League]. E a verdade é que já vencemos a Supertaça e já conseguimos o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Agora, é lutar pelos títulos e por uma boa campanha na Champions."

Mayara Barcelos

"A liga portuguesa é muito competitiva, mais até do que eu imaginava, as equipas estão a investir muito"

LIGA DOS CAMPEÕES

"Vai ser duro defrontar as melhores equipas da Europa. Temos conversado sobre isso, mas o espírito, neste clube, não é apenas o de participar. Vamos olhar todas as equipas olho no olho e lutar pela vitória em todos os jogos. Estamos a preparar-nos muito bem, sabemos que o nível a que estamos habituadas vai subir muito, mas acredito no nosso potencial e até acredito que, jogando num nível acima, vamos beneficiar, depois, nas competições internas. Claro que vai haver cansaço, muitas viagens, mas aí entra a profundidade do plantel, que tem duas jogadoras para cada posição e permite rotatividade."

PRAIAS E PASTÉIS DE BELÉM

"Gosto muito de Lisboa, é uma cidade linda, e já visitei várias praias, porque adoro praia. Fui a Cascais, Carcavelos e Caparica. Estou a ficar uma especialista em praias da zona de Lisboa. Gostei de todas, são bonitas, e a água é fria, como eu gosto. Depois, tem a comida. Os pastéis de Belém, os pastéis de nata e as francesinhas [risos]. Gulosa, eu? É só de vez em quando. Não sabia que a francesinha era um prato típico do Porto, mas comi aqui em Lisboa e fiquei fã. Mas tenciono provar outras coisas e conhecer outros locais."

Artigo publicado na edição de 21 de novembro do jornal O Benfica

Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica e Arquivo
Última atualização: 21 de novembro de 2025

Patrocinadores Voleibol