"Ter um futebol ofensivo e vencer o jogo"

ANTEVISÃO

Bruno Lage espera um jogo intenso frente ao FC Porto, no Estádio do Dragão, e deixou claro que as águias estão determinadas em "jogar em equipa" com o propósito de "ganhar". Na antevisão do clássico referente à 28.ª jornada da Liga Betclic, agendado para as 20h30 de domingo, 6 de abril, ficou ainda a garantia: "Corremos uns pelos outros."

O treinador do Benfica, em conferência de Imprensa realizada no Benfica Campus, neste sábado, 5 de abril, reconheceu o embate como "importante" para as ambições dos encarnados no Campeonato, ainda que não o veja como "decisivo". A estratégia passa por "jogar bem e ter um futebol ofensivo" de modo a alcançar o desiderato desejado: a conquista dos 3 pontos.

Bruno Lage prevê um "jogo dividido e rápido", fruto da natureza das duas formações...

Queria ouvir a sua antevisão do clássico de amanhã [domingo]: por comparação com o jogo da 1.ª volta, quais são as principais diferenças que identifica?

Antes de mais, dizer que é um jogo muito importante para nós. Não é decisivo, mas é um jogo muito importante, em que vamos com a ambição de jogar bem, ter um futebol ofensivo e vencer o jogo. Isso tem de ser determinante. Sinto que preparámos muito bem o jogo, principalmente em função daquilo que o FC Porto tem feito nos últimos jogos. Está uma equipa diferente em função, também, da forma como joga, do sistema com que tem jogado nos últimos jogos e vai ser isso. Vai ser mais um clássico, também prevejo que seja 'quentinho', como todos os outros, mas o mais importante é a mentalidade vencedora e a nossa ambição de vencer o jogo.

Quem é que está fora deste jogo por lesão e quem é que pode voltar ao onze? E por que é que diz que o jogo vai ser 'quentinho'?

Porque tem sido esse o registo. Quando digo 'quentinho', digo 'quentinho' porque são aqueles jogos que queremos jogar, enquanto treinadores e enquanto jogadores. Num momento importante da época, nós queremos estar a top. Esse é que é o nosso sentido. Independentemente do adversário, independentemente de jogar em casa ou fora, a nossa ambição, a nossa mentalidade vencedora tem de estar sempre presente. Sobre o onze: preparámos bem o jogo, temos várias coisas ainda para conversar sobre os jogadores. Ainda temos o dia de amanhã [domingo] para decidir. A única confirmação, como sabem, é o Renato [Sanches], que acabou por se lesionar no último jogo e está fora.

Há pouco [na manhã de sábado, 5 de abril] o técnico do FC Porto disse que o Benfica não pode perder a liderança do Campeonato. Foi há pouco... Queria a sua reação. Dá sensação de que o técnico do FC Porto está a passar toda a pressão para o lado do Benfica. Perguntava qual é a sua leitura. E depois, esta semana tem sido marcada por alguma tensão entre os dois clubes com troca de comunicados. Já falou aqui há algum tempo que não quer politiquices dentro de campo e nas bancadas. Queria saber como é que vê este ambiente, e se consegue que este ambiente fique fora do estádio.

A nossa preocupação, a minha e a dos jogadores, é estarmos sempre concentrados naquilo que controlamos, que é o jogo. O que mais quero é que o jogo comece, um jogo de grandes emoções. É um clássico, vencer no Dragão não é tarefa fácil, mas nós vamos com essa ambição e essa mentalidade. Sentimos a equipa, da forma como nós treinámos ontem [sexta-feira] e hoje [sábado] para preparar o jogo, confiante. A equipa está num bom momento e a pressão que nós colocamos a nós próprios é jogar o nosso jogo, independentemente do adversário, e jogar para conquistar títulos.

Se olharmos para o contexto da classificação, este jogo é importante para os dois, mas será praticamente definitivo ou decisivo para o FC Porto, que, perdendo, perde definitivamente o comboio do título. O Benfica, ganhando, mantém-se no 1.º lugar aconteça o que acontecer, e para o FC Porto, perdendo, além de ficar arredado do título, fica mais difícil a Liga dos Campeões. Portanto, recupero uma pergunta que já lhe foi feita: para quem é mais importante o jogo de amanhã [domingo]? E, depois, relativamente à questão tática. Disse aqui que preparou bem o jogo, que sentiu a equipa bem nesta semana, focada. Uma coisa é o que os treinadores acham e como o preparam, mas outra coisa é como será o jogo. Acha que será um jogo partido? Quem é que vai ter mais bola? Quem é que vai mandar e controlar a partida?

Cabe-me é responder sobre nós. Para nós é importante, não é decisivo. Por isso, cabe-me falar sobre como nós encaramos o jogo. Sobre o lado do FC Porto, façam vocês a vossa leitura. Sobre o lado do jogo, e por aquilo que eu tenho visto e por aquilo que analisámos, acredito que vai ser um jogo muito dividido e muito rápido. Porque ambas as equipas gostam de jogar rápido, nós também nos sentimos muito confortáveis nisso. Ambas as equipas gostam de pressionar, ambas as equipas são muito fortes a atacar a profundidade, são muito fortes nas transições ofensivas. Por isso é que eu prevejo isso. Prevejo um jogo muito tático, mas não um jogo amarrado. Um jogo, sim, de velocidade, em que a bola rapidamente pode sair de uma área e, em 2/3 passes, estar na outra área. Prevejo que o jogo seja essencialmente isso. Tático, mas não amarrado, um jogo de velocidade.

Estamos perante um FC Porto muito diferente daquele que tem sido nas últimas épocas: mudança de presidente, mudança de treinadores, perdeu o capitão, enfim, perdeu muitas referências, e André Villas-Boas até já reconheceu que está muito aquém do desejado. Por isso, pergunto-lhe se este é o FC Porto mais frágil que vai defrontar.

Não cabe a mim, enquanto treinador do Benfica, estar a analisar a vida do FC Porto. A mim, cabe-me é analisar a equipa do FC Porto e preparar da melhor forma a minha equipa para defrontar o FC Porto. Já disse como é que acho que o jogo vai ser. O FC Porto, nos últimos jogos, alterou o sistema. Eustáquio tem sido um jogador importante na forma como a equipa sai de um sistema e entra noutro, como a equipa ataca de uma forma e depois pode atacar de outra. Ele entre os centrais, ele à frente dos centrais. Isso é que é mais importante para mim, para eu perceber, para eu transmitir aos nossos jogadores, e depois aquilo que é preparar: como defender, como atacar, como aproveitar espaços, quais os espaços que o FC Porto nos oferece. Isso, para mim, é o mais importante. Eu sei que, para vós, outro tipo de análise seria mais importante, mas a mim, enquanto treinador, é aquilo que é o jogo, a importância do jogo e como preparar o jogo da melhor maneira.

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Prometeu uma equipa ofensiva no Dragão, sem medo de correr riscos. O que eu lhe pergunto é se em termos defensivos não está preocupado com a facilidade com que o Farense marcou no Estádio da Luz.

Não, não estou, porque olhe... quando nós olhamos para o jogo, nós temos de olhar para aquilo que nós fazemos, quer ofensivamente, quer defensivamente. Por acaso, tive curiosidade de olhar para vários Campeonatos e, dos vários líderes, quer de Espanha, quer de Itália, quer de Inglaterra, quantas vezes nós vemos o primeiro a jogar contra uma equipa que está em baixo na tabela e também sofrer dois ou três golos e vencer por 4-3 ou 3-2, por 1-0 ou 2-1, enfim... Por isso, quando olhamos para o jogo sentimos que a equipa teve um bom comportamento em termos ofensivos, sofreu um golo de boa parada, já percebemos o porquê. O Farense é forte nesse momento e fez com todo o mérito o golo de bola parada. Nós fazemos o 3-1, saímos da 2.ª parte e fazemos o 3-1. O Farense com todo o mérito faz uma bonita jogada, faz o 3-2. Por vezes, nós temos de dar mérito ao adversário, e foi aquilo que eu falei no último jogo, mas em termos daquilo que foi, aquilo que produzimos em termos ofensivos para o que fizemos em termos defensivos, foi muito superior aquilo que fizemos em termos ofensivos e de positivo. Por isso, vencemos o jogo, vimos numa boa sequência, a nossa busca tem de ser na consistência, porque, você sabe, isto não é matemática, e o exemplo disso são os resultados que nós temos tido, quer nós, quer as outras equipas que vão na frente, quer em Portugal, quer nos outros países, em termos de resultados, quer com o primeiro, quer com o último, quer os jogos das competições europeias.

Convido-o, primeiro, a revelar-nos sem rodeios se o Benfica poderá contar com Tomás Araújo no jogo de amanhã [domingo]. Queria, também, regressar a Renato Sanches. O treinador do Benfica consegue explicar aos adeptos do Benfica o que se passa com Renato, que gerou tantas expectativas e que tem estado a ser consumido, novamente, por lesões?

Não consigo explicar. Aquilo que consigo dizer é que estamos sempre ao lado do Renato. Ele recupera sempre muito bem das mazelas que tem tido, facilmente entra nos treinos, facilmente entra no lote de opções para os jogos. Vinha, neste momento, numa sequência, salvo erro, de cinco jogos a contribuir para a equipa. Vou-vos confessar que temos trabalhado muito com ele um posicionamento e uma posição diferente, de jogar de primeiro médio. Ele estava a fazer um jogo muito interessante [frente ao Farense], porque são coisas diferentes aquilo que se pede, por exemplo, quando se joga naquela posição, quer ao Florentino, quer ao Renato a jogar de primeiro médio, ou aquilo que pedimos de segundo médio, quando o Renato joga ali ou o Kökcü. Ele estava a fazer uma boa interpretação nesse papel, e é com alguma infelicidade que o vemos voltar, outra vez, a um momento de paragem, a uma lesão. Estamos com ele, ao lado do jogador, ao lado do homem. Ele que recupere rápido, porque ainda temos, quem sabe, o Mundial de Clubes para ele jogar por nós. Sobre o Tomás, tem estado, também, num momento em que temos de fazer uma boa gestão do atleta. O mais importante para nós, enquanto equipa, é termos esse cuidado com todos os atletas e depois, amanhã [domingo], decidir qual o melhor jogador em função da estratégia que vamos adotar. Nós queremos sempre muita profundidade e o Tomás dá-nos isso. Curiosamente, apesar de ser um central, dá-nos muita profundidade pelo corredor, tem qualidade de cruzamento, integra muito bem o terço ofensivo, independentemente do ala que jogue por ali, ele projeta-se muito e é muito ofensivo. É isso que nós pretendemos naquela posição. Temos de aliviar e, amanhã [domingo], perceber qual a melhor opção para o jogo.

Bruno Lage não estava cá na época passada, mas a maior parte dos jogadores estava quando o Benfica foi derrotado, goleado no Estádio do Dragão por 5-0. Esse jogo foi tema de conversa para motivar as tropas e para que tal não se repita?

Não, nem esse, nem o nosso último que fizemos na 1.ª volta, nem o momento em que estamos a viver. Interessa é o futuro, é a única coisa que interessa. É: um jogo importante amanhã [domingo], olhar para aquilo que a equipa do FC Porto está a fazer em campo e prepararmo-nos da melhor maneira para vencer.

Aproveitava para lhe perguntar se tem mais alguma baixa para este jogo, para além do Renato [Sanches] e eventualmente do Tomás [Araújo]. E depois, também, já disse que este jogo é importante, mas não decisivo. Pergunto, quão importante é, que impacto é que pode ter para o resto da época do Benfica ganhar este jogo ou perder este jogo.

Importante são os 3 pontos. São os mesmos 3 pontos do Farense e depois, eventualmente, são os mesmos 3 pontos que penso que seja o Arouca no jogo seguinte. É importante por isso. São 3 pontos, importante porque o Campeonato aproxima-se do final, nós queremos continuar na liderança, é importante por isso. Sobre lesões... Tirando o Bah, o Manu e o Renato, não houve [mais lesões]...

Martín Anselmi [treinador do FC Porto] repetiu duas vezes o mesmo onze e o FC Porto ganhou os dois jogos. Espera que o onze seja o mesmo, ou acredita que Martín Anselmi vai mudar a equipa para contrariar alguma ameaça específica do Benfica?

Podem acontecer os dois cenários. É uma boa leitura, acho que é 50/50. Partir de alguma estabilidade da equipa ter feito dois bons resultados, mas nós, enquanto treinadores, fazemos sempre a análise do jogo também independente do resultado. Há coisas que vamos vendo em outros jogos que são importantes para experimentar no jogo seguinte, independentemente do adversário. Por isso, pode também haver uma alteração... eventualmente não fazer a linha de três com Eustáquio e fazer com um terceiro central. Pode acontecer, mas acredito que possa seguir a linha dos últimos dois jogos.

Voltando a essa questão da nuance tática do FC Porto. Pavlidis fez um bom contra o FC Porto na Luz na 1.ª volta. Se pensarmos nessa nuance de que o FC Porto muitas vezes não tem usado um central de raiz no meio dos centrais, isso poderá ser benéfico para Pavlidis repetir uma boa exibição agora no Dragão?

No passado recente, curiosamente, muitas das equipas têm jogado assim. O Barcelona, connosco, defendeu assim. Nos últimos 5/6 jogos, pelo menos 3/4 equipas têm defendido assim, a colocar um jogador no meio dos centrais para diminuir as distâncias na linha defensiva, para que os laterais se possam projetar e debater de frente com os nossos laterais, porque jogamos com os nossos laterais muito projetados. Nós é que temos de ter essa capacidade, e não apenas o Pavlidis... Trazer uma boa exibição de um jogo que já foi há imenso tempo, penso que em novembro, para agora não faz muito sentido. Faz sentido é olhar para aquilo que a equipa tem vindo a fazer quando os adversários jogam com uma linha de cinco. A equipa tem sabido ter um bom comportamento ofensivo, tem percebido muito bem como o adversário se movimenta e que tipo de movimentações e espaços podemos aproveitar. Não olhar apenas para o que o Pavlidis tem vindo a fazer, mas para o que a equipa faz quando defronta um adversário com esse posicionamento.

Não sei se o dia 2 de março de 2019 lhe diz alguma coisa, mas nos últimos 10 anos o Benfica venceu duas vezes no Estádio do Dragão, e uma das vezes foi consigo como treinador neste dia. Gostava de lhe perguntar se essa experiência que teve também nesse jogo tão marcante, em que o Benfica consegue vencer o FC Porto em casa do rival, lhe permite dar alguma coisa ao plantel que tem hoje. Obviamente são plantéis diferentes, equipas totalmente diferentes, mas essa experiência que teve conseguiu ajudá-lo de alguma forma a passar alguma mensagem para os jogadores, para o jogo de amanhã [domingo]?

Não. Olhe, quer essa – se você [jornalista] me dissesse só a data eu não ia lá; depois, quando falou 2019, prevejo que seja a nossa vitória... –, quer o jogo que fizemos na época seguinte em que perdemos por 3-2... Perdemos por 3-2 e terminámos, se vocês se recordam, com 3 homens na frente. Na altura nós apresentámos logo 3 homens na frente, 2 na largura, 2 médios e 3 defesas. Como jogámos com 3 pontas de lança, as pessoas ficaram logo... e hoje em dia praticamente toda a gente joga assim: 3 [defesas], 2 [médios], 2 homens abertos [laterais/alas] e 3 homens no meio [avançados]. Por isso, nós acabámos assim o jogo, com 3 avançados, essa é a forma como nós temos de olhar para o jogo. A mensagem mais importante que passei aos nossos jogadores foi essa. Aquilo que controlamos é aquilo que se vai passar dentro das quatro linhas, estarmos o mais tranquilos possível, pensar apenas naquilo que nós temos de fazer, na tarefa que temos de fazer, no lado estratégico, mas acima de tudo no potencial, na qualidade e no talento, quer como equipa, quer em termos de individualidades, porque nós vamos enfrentar uma equipa com boas individualidades, mas nós também temos grandes jogadores que num momento de inspiração podem resolver o jogo. E que eles se mantenham neste registo que nós temos vindo a ter, que eu acho que é muito importante, e vocês vão desculpar-me de o repetir, mas nós estamos juntos, estamos juntos como uma família, jogamos como equipa, corremos uns pelos outros, e uma vez mais, amanhã [domingo], como tropa para lutar por nós, porque queremos muito vencer o jogo.