Atletismo

15 junho 2025, 08h15

Emanuel Sousa

Emanuel Sousa

No espaço de um ano, Emanuel Sousa quebrou quatro vezes o seu próprio recorde nacional de lançamento do disco. Em abril de 2024, superou a marca de Francisco Belo, ganhando quase 5 metros ao recorde anterior. Um ano depois, o lançador do Benfica acrescentou mais 5 centímetros à sua melhor marca e superou os 67 metros.

Este recorde valeria a Emanuel Sousa, por exemplo, o 6.º lugar nos últimos Jogos Olímpicos. Mas, aos 26 anos, o atleta benfiquista refere que, agora, o objetivo é ultrapassar os míticos 70 metros. Em setembro, terá uma oportunidade de mostrar que já está entre a elite dos lançadores mundiais, o que sempre foi o sonho que se propôs cumprir, desde que o seu primo, lançador do Sporting e seu rival em Portugal, o levou a treinar no Lumiar.

Foi aí que o Benfica o descobriu, acreditou no seu potencial e o desenvolveu como atleta de elite, fazendo parte do projeto olímpico do Clube, enquanto coleciona títulos nacionais, individuais e coletivos. Hoje, Emanuel Sousa – confessou-o no programa Protagonista, da BTV – é um atleta que almeja muito mais do que isso, como espera que se confirme nos Mundiais de setembro e, no futuro, nos Jogos Olímpicos.

Emanuel Sousa

"Vai ser a primeira vez que vou participar num Mundial por Portugal, e as minhas expetativas são as melhores. Estou num patamar em que as pessoas já olham para mim como um atleta que pode conseguir boas marcas"

Emanuel Sousa

UM ANO DE RECORDES

"Foi um ano mágico para mim. Bati o recorde nacional de lançamento do disco por quatro vezes. Foi o salto na minha carreira que eu procurava. A verdade é que, antes, sentia que estava a estagnar, e comecei a pensar, até, que algo de errado estava a fazer, e comecei a desanimar, porque melhorava apenas alguns centímetros às minhas marcas, e isso não era suficiente para chegar ao patamar que desejava. Sentia que poderia chegar mais longe, mas as coisas não estavam a acontecer. Mas tudo se alterou, mudei de treinador, e as marcas apareceram. Primeiro, foi em março de 2024, fiz 62,94 metros e bati o recorde nacional do Francisco Belo, o que era quase 5 metros a mais do que o recorde anterior. E a última vez que bati o meu próprio recorde foi em abril deste ano, com a marca de 67,51. Esta marca, por exemplo, teria valido o 6.º lugar nos Jogos Olímpicos de Paris."

MUNDIAL À VISTA

"Vai ser a primeira vez que vou participar num Mundial por Portugal, e as minhas expetativas são as melhores. Estou num patamar em que as pessoas já olham para mim como um atleta que pode conseguir boas marcas. E será uma oportunidade para bater, de novo, o meu recorde, porque o meu próximo objetivo é passar dos 70 metros. É a minha ambição, e o Mundial vai desafiar-me. Claro que, se melhorar o meu recorde, acredito que estarei entre os melhores, e a partir dai, quem sabe?, será possível trazer uma medalha. Mas, como digo, o Mundial será para mim uma oportunidade que pretendo aproveitar para continuar a elevar o meu nível, porque quero estar entre os melhores do mundo, na minha especialidade. Quando comecei a levar mais a sério a minha carreira, fixei esse objetivo, de ser um dos melhores do mundo. É para isso que treino, e tenho a felicidade de representar um clube que também é dos melhores do mundo e me dá todas as condições, de treino e de apoio, que um atleta pode ter."

CAMPEÃO NACIONAL

"Antes dos Mundiais, vamos ter o Campeonato Nacional ao Ar Livre, que é a prova de clubes mais importante do calendário nacional. Quero ajudar o Benfica a vencer o Campeonato, a manter o seu estatuto de maior potência nacional de atletismo. Neste ano, já ganhámos os Nacionais de Pista Coberta e somos favoritos agora ao ar livre, porque são mais competições e a nossa equipa é a mais forte. Temos uma mescla de atletas de grande potencial, que aproveitou o trabalho que se faz no Benfica, na formação, com outros atletas que são referências do atletismo internacional. E eu quero ajudar o Benfica, como o tenho feito, a dar pontos para conseguirmos mais um título."

TAÇA DOS CAMPEÕES EUROPEUS

"É um sonho, para qualquer atleta do Benfica, ser campeão europeu pelo Clube. Infelizmente, a Federação Internacional de Atletismo ainda não voltou a organizar essa prova, e o Benfica não pode demonstrar que é um dos principais clubes europeus na modalidade. Mas, quando houver de novo a Taça dos Campeões Europeus de Atletismo, o Benfica estará lá, como sempre, a lutar pela vitória. Falo por mim, pelos meus colegas e por toda a gente ligada à modalidade, no Benfica. Seria uma alegria muito grande, para todos nós, oferecer um título europeu ao Benfica, depois de tudo o que o Clube tem feito por nós e pelo atletismo. Mas, não tenham dúvidas, o Benfica é um dos melhores clubes da Europa no atletismo."

Emanuel Sousa

"Seria uma alegria muito grande, para todos nós, oferecer um título europeu ao Benfica, depois de tudo o que o Clube tem feito por nós e pelo atletismo. Mas, não tenham dúvidas, o Benfica é um dos melhores clubes da Europa no atletismo"

OS PRIMÓRDIOS DA CARREIRA

"Eu vim para Portugal viver com o meu pai e tinha a necessidade de fazer alguma coisa. Joguei futebol, por brincadeira, era rápido, mas não tinha muito talento, em São Tomé e Príncipe, mas em Lisboa estudava e tinha muito tempo livre, sentia que precisava de fazer alguma coisa, uma atividade qualquer. Foi aí que o meu primo Edujose, que andava no atletismo, me desafiou a ir a um treino na pista do Lumiar, que era perto das Galinheiras, e eu fui experimentar. Fui fazendo umas provas, fui treinando, o que me ajudava muito com o meu tempo livre, e foi aí que a minha primeira treinadora, a Maria Costa, viu o meu potencial e me levou para o Benfica. Foi aí que a minha vida mudou, e passei a levar o atletismo mais a sério."

O BENFIQUISMO NAS VEIAS

"Sou muito benfiquista, já era em São Tomé e Príncipe, e ser atleta do Benfica passou a ser um sonho que concretizei. Quando era mais novo, assistia às provas dos Jogos Olímpicos e, por vezes, sonhava com aquilo. E, um dia, vi o concurso do lançamento do disco, vi o Christoph Harting a lançar o disco, e fiquei preso naquela imagem. Acho que foi aí que surgiu a minha motivação para ser lançador do disco. Queria conhecer Portugal, queria conhecer o mundo, e o atletismo podia ser uma porta para mim. E, como era benfiquista, o sonho era ser lançador no Benfica. Por isso, mesmo que influenciado pelo meu primo, que é atleta no Sporting e, agora, o meu rival, a ir treinar com ele, ao seu clube, quando surgiu a oportunidade de vir para o Benfica, nem hesitei. E nunca mudei, até porque o Benfica, além de ser o meu clube do coração, faz um trabalho incrível na formação. Pelo menos comigo fez."

RIVALIDADE COM O PRIMO

"O meu primo é o meu grande rival nas pistas. Eu visto a camisola do Benfica, e ele, a do Sporting. Felizmente, tenho conseguido levar a melhor. Sei que ele fica feliz pelos meus recordes, não falamos muito disso, mas também sei que ele me quer vencer, porque a alta competição é assim mesmo. Não temos grandes discussões entre nós sobre a rivalidade clubística, apenas damos o nosso melhor quando competimos. Sou muito grato a ele, por me ter trazido para o atletismo e por ter permitido que alguém tivesse reparado em mim e me tivesse levado para o Benfica. A partir daí, tem sido fantástico, embora, com alguns períodos de desilusão, quando as minhas marcas não estavam a dar o salto que eu queria. Desejo sempre o melhor ao meu primo, como sei que ele fica feliz com as minhas conquistas pessoais. Com as conquistas clubísticas, se calhar, não. Mas ele compreende, sou do Benfica, e no Benfica só queremos ganhar." 

Artigo publicado na edição de 13 de junho do jornal O Benfica

Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica
Última atualização: 15 de junho de 2025