Hóquei em Patins Feminino

24 outubro 2025, 10h26

Sara Roces

Sara Roces exibe a Taça Professor João Campelo

É fácil descrever Sara Roces em poucas palavras. Campeã do mundo e da Europa, pela seleção espanhola, e campeã da Europa de clubes, por duas vezes. Tudo o resto que se possa acrescentar sobre a internacional espanhola de hóquei em patins do Benfica é uma absoluta redundância.

Foi a melhor marcadora da liga espanhola, a liga mais competitiva do mundo, e chega ao Benfica com um estatuto quase tão insuperável como os Himalaias. É a convidada desta semana do Protagonista, e, na conversa que mantive com ela, deparei-me com uma jovem que está convictamente apaixonada pelo Benfica e por Lisboa. E que é produto de um mágico alinhamento astral entre si e o clube que representa. Vamos à conversa.

ALÔ, BENFICA

"A hipótese de vir para o Benfica já se colocava há algum tempo, mas, por causa dos meus estudos, não podia concretizar esse desejo, que era meu e do Clube. Mas há muito tempo que tinha na cabeça essa possibilidade. Lembro um jogo que disputei aqui, no pavilhão, pelo Gijón, contra o Benfica. Eu tinha 15/16 anos, e o pavilhão estava cheio, com muitas bandeiras e um ambiente louco. E eu, ainda muito nova, pensei na loucura que estava a viver. Era algo que eu nunca tinha visto, estava habituada a ver os meus familiares, os meus amigos e pouco mais, nos jogos da nossa equipa. E, de repente, um pavilhão cheio, com toda aquela energia, aquela paixão. Pensei que, um dia, gostava de jogar neste ambiente, mas não como adversária. Claro que a partir do momento em que me apercebi de que a vinda para o Benfica seria uma realidade, essas imagens vieram-me à cabeça."

Sara Roces

"Lembro um jogo que disputei aqui pelo Gijón. O pavilhão estava cheio, com muitas bandeiras e um ambiente louco. E eu, muito nova, pensei na loucura que estava a viver. Era algo que eu nunca tinha visto"

Sara Roces

ADEPTOS EM TODO O LADO

"Foi uma das coisas que mais me surpreenderam aqui. Aonde quer que a equipa vá, estão muitos adeptos do Benfica. É realmente incrível. Como disse, eu não estou habituada a isto. Vamos ao Norte, e lá estão os adeptos do Benfica. Foi uma das primeiras coisas que me disseram quando cheguei, que ia gostar dos adeptos, da sua paixão, e que todos os jogos seriam em 'casa'. Eu venho de uma liga mais competitiva, talvez a melhor do mundo, mas o Benfica é realmente diferente. Eu sabia que vinha para um dos melhores clubes do mundo, talvez o melhor clube do mundo. E é isso que faz valer a pena a mudança, para jogadoras como eu."

PRIMEIROS TÍTULOS

"Estas conquistas, da Elite Cup e da Supertaça, podem não ser as mais impactantes, mas, para mim, são importantes porque foram as primeiras por este grande clube. E deu para perceber como é o sentimento neste clube. É tudo para ganhar, sejam as provas mais ou menos importantes. É claro que na minha cabeça está a liga europeia, que já venci por 2 vezes e que agora quero ganhar pelo Benfica. Foi para isso que vim, quero ser campeã europeia de clubes outra vez, e agora num grande clube mundial como o Benfica. Teremos, também, o Campeonato e a Taça [de Portugal], mas creio que a liga europeia é algo que o Clube, as jogadoras e os adeptos perseguem há vários anos. E acredito que neste ano poderemos conseguir vencer a competição."

ADAPTAÇÃO FÁCIL

"Muito mais fácil do que eu esperava. No Clube e na faculdade, onde estou a fazer Erasmus, já fiz amigos, que me têm facilitado muito a adaptação. Na equipa, fui recebida de uma forma magnífica, pela estrutura, pelos adeptos. Sinceramente, sinto-me em casa e estou encantada com tudo. O ambiente na equipa é muito bom, temos um grupo extraordinário e que me ajudou e integrou imediatamente. Quando os meus pais estiveram cá, eles viram como fui recebida e como estou integrada, e isso tranquilizou-os bastante, porque a distância é algo que os preocupa. Mas, atualmente, é bastante fácil quebrar essa distância, através das plataformas digitais. Mas, no Benfica, na faculdade, tenho sido muito bem recebida e feito amigos com facilidade, porque também sou uma pessoa muito extrovertida. Mas está a acontecer tudo muito rápido e de uma forma que adoro."

Sara Roces

"Aonde quer que a equipa vá, estão muitos adeptos do Benfica. É realmente incrível. Como disse, eu não estou habituada a isto. O Benfica é realmente diferente"

ESPANHOLIZAÇÃO DO PLANTEL

"Eu acho que o Benfica, ao ter a capacidade de trazer jogadoras espanholas para o seu plantel, está a aproximar-se ainda mais do nível das equipas de Espanha, que defronta todos os anos na liga europeia. Eu e a Aimée [Blackman] vimos de um hóquei diferente, de uma liga mais competitiva, e trazemos essa bagagem. Não estou a dizer que somos melhores ou piores, mas que trazemos coisas novas à equipa e que ela pode beneficiar com isso. Claro que só um clube como o Benfica pode sonhar em contratar jogadoras em Espanha, que joguem para os títulos, como eu e a Aimée. Porque, ao vir para o Benfica, vimos para um grande clube que nos permite continuar a evoluir, a conquistar títulos e a lutar por eles. Acho que, no fim, é bom para todos, para o Benfica e para nós, porque a soma das nossas caraterísticas permite-nos evoluir como equipa e também como jogadoras."

A COMPETITIVIDADE DA LIGA

"Creio que esse tem sido um dos problemas do Benfica, nos últimos anos. A liga portuguesa é menos competitiva, e eu senti isso, nos jogos que já realizámos, nesta temporada, nas competições que ganhámos. A diferença entre a nossa equipa e as outras nota-se em pista, e isso acaba por ter efeitos na competitividade do Benfica na liga europeia. Em Espanha, qualquer jogo do Campeonato é uma luta pelos 3 pontos. Várias equipas disputam os títulos, e, quando chegamos à liga europeia, os jogos são do mesmo nível, a intensidade, a velocidade. No Benfica, talvez isso não aconteça. Por isso é que acho que é importante a vinda de boas jogadoras espanholas para o Benfica. Estamos a criar uma equipa mais forte."

CRAQUES DO FUTURO

"Uma coisa é defrontar uma equipa, e outra coisa é treinar com ela, todos os dias. Conhecia bem a equipa do Benfica, as suas jogadoras, contra as quais joguei, pelos nossos clubes e pelas nossas seleções. Mas agora, que treino com elas, posso dizer que as conheço melhor. São grandes jogadoras. A Marlene [Sousa], que era uma jogadora que eu admirava desde os meus 12/13 anos... Eu tenho uma fotografia com ela, tirada há 10 anos, era eu uma miúda, e a Marlene já era uma das melhores jogadoras do mundo. Incrível. Mas o plantel tem outras jogadoras muito boas. A Raquel [Santos], meu Deus, que jogadora, que potência, intensidade. Vai ser, nos próximos anos, das melhores jogadoras do mundo. E a Leonor [Coelho], que o Benfica contratou neste ano, muito boa jogadora, muito talento. Também vai ter muito impacto, nos próximos anos, no Benfica e na seleção."

Sara Roces

"Ao vir para o Benfica, vimos para um grande clube que nos permite continuar a evoluir, a conquistar títulos e a lutar por eles. Acho que, no fim, é bom para todos"

JOGO NA LUZ

"Na época passada, joguei aqui, contra o Benfica, e foi um jogo que recordo bem pelo que se passou antes. Perdi a minha bagagem, onde estavam os meus patins e o resto do meu equipamento, e tive de jogar com os patins da minha treinadora e com outras peças de equipamento das minhas colegas, como a Ana Catarina, internacional portuguesa e que jogou vários anos no Sporting. Ainda assim, marquei 2 golos e ganhámos 2-6. Mas foi uma peripécia."

FINAL IBÉRICA

"Claro que imagino uma final da liga europeia entre o Benfica e uma equipa espanhola. O que é mais difícil, para mim, é imaginar uma final entre o Benfica e o meu clube, o Gijón. Mas, se acontecer, todos sabem que vou dar o meu melhor e quero ganhar. Eles conhecem-me, sabem que sou muito competitiva, não gosto nada de perder. Claro que, se ganharmos, é melhor não aparecer por lá, durante uns dias. [risos]."

O FEITIÇO DE LISBOA

"Adoro Lisboa. Estou apaixonada por esta cidade. Os meus pais estiveram cá, para assistir à final da Supertaça, e também adoraram. Vejo-me, com facilidade, a viver aqui durante alguns anos. É uma cidade muito soalheira, tem as praias e tem locais muito bonitos. Adoro o Miradouro de Santa Catarina. A comida é que ainda não experimentei muito, mas quero fazê-lo, porque toda a gente me fala bem da comida típica portuguesa."

Artigo publicado na edição de 24 de outubro do jornal O Benfica.

Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica
Última atualização: 24 de outubro de 2025

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