Futebol

30 outubro 2025, 00h21

Benfica-Tondela

José Mourinho

PÓS-JOGO

José Mourinho olha para o Benfica-Tondela (3-0), jogo dos quartos de final da Taça da Liga, disputado nesta quarta-feira, 29 de outubro, no Estádio da Luz, como "uma missão cumprida", porém, sublinhou, esperava que a equipa tivesse "jogado mais" e construído "um resultado maior".

Antes de analisar o encontro em conferência de imprensa, José Mourinho fê-lo na zona de entrevistas rápidas, na Sport TV, onde começou por falar numa "missão cumprida com tranquilidade a mais".

"Durante muito tempo jogou-se com pouca ambição, com pouco ritmo. Eu estava ali na 1.ª parte e estava a sentir que eu tinha falhado na tentativa de apertar com eles [jogadores] para que o jogo fosse jogado do mesmo modo que jogámos o último [frente ao Arouca], do mesmo modo que eu quero e gostava de jogar sempre. Falhei, a equipa sentiu que, se calhar, 'o jogo era fácil ou acabava-se sempre por ganhar', e na 1.ª parte não gostei. Depois, na 2.ª parte, começámos bem. Seria um golo lindo, invalidado por fora de jogo, mas seria um golo muito bonito na sua construção, na sua finalização. E depois, se calhar, também aqueles 5 minutos em que estivemos à espera ajudaram a voltar a pôr a temperatura do jogo demasiado fria. Quando eu senti que o jogo podia caminhar para uma zona de perigo, que até então não tinha acontecido, meti pesos-pesados, e a sensação que ficou foi que, se eu tivesse começado o jogo com aquela equipa, com aqueles jogadores que estão a ser a minha primeira escolha, o resultado podia ser completamente diferente. O objetivo foi cumprido, sim, mas numa noite destas, num jogo a meio da semana, nos quartos de final de uma Taça da Liga, ter aqui mais de 50 mil pessoas é quase tão fantástico como ter 85 mil nas eleições. E as pessoas que vieram aqui, principalmente estas, mas também os outros que estavam em casa, mereciam que nós tivéssemos jogado melhor e que tivéssemos construído um resultado maior", disse.

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José Mourinho revelou ainda que "não quis correr riscos" no decurso do encontro, daí as opções que tomou. "Eu sei que há uma acumulação importante de jogos, mas eu gosto de ganhar, o Benfica gosta de ganhar. Eu não gosto de brincar ao futebol e às competições, o Benfica também não. Eu quis passar esta mensagem hoje aos jogadores. Sinto que não fui totalmente bem-sucedido, mas no fundo acho que o bom da noite foi a vitória e foi uma vez mais de 50 mil, acho eu, que vi no ecrã. Os 250 jogos do Otamendi pelo Benfica acho que é também uma coisa de assinalar. E, como eu disse no balneário agora no final: o Otamendi fez um sprint de 80 metros ao minuto 90+5', a ganhar 2-0 com o jogo morto, uma bola perdida à frente, e ele fez um sprint de 70/80 metros", frisou.

O técnico apontou baterias para Guimarães. "Fui lá com o Benfica, e fui lá com o FC Porto, e Guimarães é um sítio lindíssimo para jogar; com uma massa adepta, obviamente, contra, mas uma massa adepta fantástica. É um daqueles clubes históricos, é um daqueles estádios históricos que desde pequeno nós começamos a admirar, seja o clube, seja o próprio estádio, e são jogos difíceis. A emoção seria ganhar lá e vir para baixo com 3 pontos", atirou.

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VITÓRIA JUSTA E INCONTESTÁVEL, MAS...

"Análise ao jogo... Não gostei da 1.ª parte. Senti-me culpado, tive ali no banco alguma sensação de culpa de não ter conseguido passar a mensagem que queria passar, não ter conseguido passar a mensagem de resolver isto rápido. E mais de 50 mil pessoas num jogo dos quartos de final da Taça da Liga, a meio da semana, à noite, acho que é uma coisa fantástica e merecedora de mais da nossa parte. Eu não quero dizer que a atitude foi má, porque não foi, mas foi uma atitude... de q.b., quanto baste. 'Este jogo vamos ganhar, mais ritmo, menos ritmo, mais qualidade, menos qualidade, mais cedo, mais tarde, este jogo vamos ganhar', e deixámos o jogo andar. Na 2.ª parte, acho que entrámos muito bem, acho que o golo que nós fizemos – que foi anulado por, penso, 1 centímetro, certo? Foi anulado por 1 centímetro – é um golo bonito na sua conceção, e depois, na finalização, acho que é um golo muito bonito e que, pronto, e que no fundo era a prova de que nós entrámos na 2.ª parte melhor. Aquela espera interminável para saber se era 1 centímetro, 1 milímetro, ou era golo válido, acho que também voltou a esfriar a coisa. E depois fui obrigado a mudar da maneira que eu não queria mudar, que eu queria mudar para jogadores que merecem jogar algum tempo, mas eu depois tive de mudar na direção que eu não queria e que eu não esperava, mas que eles estavam lá no banco exatamente para isso. O jogo estava a entrar naquela meia hora final, onde há sempre um risco de uma equipa que não fez um único remate à baliza, fazer um e fazer um golo, não quis arriscar. E depois, quando meto principalmente o Pavlidis, o cariz do jogo mudou. A equipa começou a ligar-se mais, começámos a ser muito mais fluidos, muito mais qualidade no jogo ofensivo. Depois o Richard [Ríos] entrou e, com a sua fisicalidade, apanha uma equipa já em quebra, e ele quebrou-a mesmo, portanto a vitória é normal, é mais que justa, é incontestável, mas eu esperava mais, principalmente na 1.ª parte."

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ANATOMIA DE UM ESTILO DE JOGO

"[Que estilo de jogo é que José Mourinho não está ainda a ver no Benfica e que quer ver?] Ui, então temos de estar aqui meia hora. Temos de estar aqui meia hora, e se calhar há pessoas lá em casa que depois não iam perceber a minha terminologia, mas, tentando ser o mais pragmático possível, porque às vezes utiliza-se uma terminologia complicada para as pessoas lá em casa, eu resumia tudo isso em intensidade, seja defensiva, seja ofensiva. Pressionar como pressionámos durante praticamente todo o jogo contra o Arouca, ser muito mais verticais como fomos, recuperarmos bola e não olharmos para trás, recuperarmos bola e olharmos para a frente. Temos alguns vícios, temos alguns vícios de recuperar bola e olhar para trás. Recuperar bola e passar para trás. Recuperar bola e passar para o lado, tirando a bola só da zona de pressão, mas ficando contente só de recuperar e tirar daqui. Eu não quero recuperar e tirar daqui, eu quero recuperar e olhar para a frente. Quero intensidade, quero velocidade, quero ritmo. Melhora-se com treino, melhora-se com treino. Não há muitas oportunidades no treino para fazermos, mas, pronto, eu acho que já vou para aí na minha 19.ª ou na 20.ª conferência de imprensa, eu tenho mais conferências de imprensa do que treinos com a equipa. Mas, pronto, conseguimos bem com o Arouca, hoje, nos últimos 10/15 minutos, voltámos a conseguir. O Pavlidis é um jogador que liga muito bem o jogo. O Richard [Ríos], as pessoas às vezes ficam um bocadinho frustradas com alguma bola perdida, com algum passe ineficaz, mas a fisicalidade e o ritmo que ele mete no jogo são também importantes para nós. Eu queria também ilibar, daquilo que eu considerei uma atitude demasiado passiva, a linha dos 4 defesas, porque acho que foram os 4 que foram sérios do princípio até fim. Não estamos a criar muito, estamos a falhar muito na frente, não estamos a marcar golos, mas aqui ninguém nos faz. E aquela linha de 4 foi uma linha que nos deu uma segurança no jogo, onde nós estávamos, mesmo com o resultado em 1-0, a sensação era: ninguém vai fazer golo."

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IR A GUIMARÃES E SACAR OS 3 PONTOS

"[Hoje consegue a sua 2.ª vitória consecutiva no Benfica, ainda não tinha acontecido] Se você [jornalista] quisesse ser simpática comigo, em vez de dizer que foi a 1.ª vez que fizemos 2 jogos/2 vitórias, você podia ter dito 7 jogos em Portugal e ainda não perderam nenhum. Mas, pronto. São os dois factos, você foi para o outro [risos]. Eu prefiro 2 jogos/2 vitórias no Campeonato. Agora que acabou, entre aspas, durante algum tempo a Taça da Liga e acabou também a Taça de Portugal até fim de novembro, não é? A seguir às seleções, só esqueçamos a Champions, precisamos de ganhar 2 jogos seguidos no Campeonato. Ainda não perdemos desde que eu cheguei cá, mas temos 2 empates e... 4 vitórias, acho eu, ou 3 vitórias e 2 empates, uma coisa qualquer assim. Temos de ganhar mais jogos no Campeonato. E sábado é um jogo difícil. É um jogo difícil. Guimarães é Guimarães. Jogar contra o Vitória em Guimarães é sempre difícil e complicado. O jogo de hoje não correu exatamente como eu esperava que corresse, porque eu queria tirar gente mais cedo e não queria meter nem Pavlidis, não queria meter nem [Richard] Ríos, e tive de meter. Queria ter metido a jogar mais da juventude que estava no banco. Mas o objetivo é esse, é ir a Guimarães e sacar os pontos."

COMPARAÇÃO COM CHAVES

"Com o Chaves [na Taça de Portugal], sentia-se fogo. O Chaves teve na 1.ª parte duas ou três situações de perigo, há uma bola com o Samuel, numa bola parada, largou, houve um ressalto... Sentia-se ali um bocadinho o perigo. Hoje, não. Hoje, o Samuel não faz uma única defesa durante todo o jogo, portanto hoje não foi brincar com o fogo, hoje foi sentir que íamos ganhar; sentir que, mais cedo ou mais tarde, ganhava-se; mais cedo ou mais tarde, fazia-se o 2.º golo. Eu não quis brincar com a competição, não brinquei. Por não ter brincado, joguei com muita gente que normalmente joga, e os restantes estavam no banco, nem sequer estavam em casa, estavam ali ao meu lado para o caso de eu precisar. Portanto, não brincámos nem com o fogo, nem com os mais de 50 mil que estavam aqui, nem com os milhões de Benfiquistas que estavam à espera de que nós ganhássemos. Devíamos ter jogado melhor, devíamos ter jogado mais rápido. Houve gente que jogou, que não tem jogado muito, que também teve algumas dificuldades de entrar na dinâmica da equipa, mas, pronto, a vitória foi conseguida."

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TEMPERATURA NO CORPO

"[Todos estes jogadores têm atitude para fazer parte do plantel do Benfica?] Têm, têm, mas têm de crescer comigo. Há muitos anos, ou praticamente desde o início da minha carreira, que eu tenho uma sensação que é: jogadores que acreditam na minha filosofia de vida, que acreditam na minha filosofia de liderança, que acreditam no meu modo de trabalhar, melhoram, melhoram, melhoram, e muitas vezes melhoram para limites que eles próprios consideram impossíveis. Aqueles que não estão muito de acordo com a maneira como eu penso, normalmente, pioram. Portanto, acho que é a crença e a empatia que farão deles melhores, ou piores. É cedo, estamos aqui há pouco tempo, é cedo. Mas gosto de gente com temperatura no corpo. O futebol joga-se com temperatura no corpo, não com frieza. Frieza aqui [na cabeça], mas com temperatura no corpo."

A AUSÊNCIA DE OBRADOR

"Não dei minutos ao Obrador porque não quis facilitar muito. E, ao mudar algumas peças que eu sabia que me podiam retirar qualidade do meio para a frente, eu queria ter estabilidade lá atrás. E ter estabilidade lá atrás é jogar com 2 dos 3 fantásticos defesas-centrais que eu tenho, ou seja, não jogou o Tomás, jogou o António, mas manter aquilo que neste momento, sem Dedic, é a nossa linha de 4. Não quis mudar também, quis ter a garantia de que, mesmo que as coisas não corressem bem do meio para a frente, atrás ia ter aquele tipo de estabilidade que estes acabaram por me dar, porque o jogo foi completamente dominado, seja na primeira bola, seja na profundidade, foi completamente dominado pela minha linha defensiva. O Obrador, eu queria meter, queria meter ao intervalo, queria dar-lhe 30 minutos, o jogo não se proporcionou dessa maneira."

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A INSTABILIDADE DOS CLUBES GIGANTES

"[Este triunfo pode ser a chave para o Benfica entrar numa fase mais estável de resultados, dar mais confiança aos jogadores, ainda para mais neste ambiente instável que o Clube vive?] Eu acho que nos clubes grandes – eu gosto de chamar o Benfica um clube gigante, porque já estive também em grandes clubes e em clubes gigantes, e eu sei qual é a diferença entre um clube grande e um clube gigante. O Benfica é um clube gigante – não há nunca estabilidade. Basta um resultado negativo para haver instabilidade. É a instabilidade dos clubes gigantes, é a instabilidade de pessoas, entre aspas, mal habituadas. É a instabilidade de pessoas que querem a perfeição, que não existe, mas pessoas que querem ganhar sempre, e sempre, e sempre, e sempre. E eu compartilho essa mentalidade. Não é sempre possível jogar bem, não é sempre possível ganhar todos os jogos, mas é sempre possível ter uma determinada abordagem ao jogo, é possível ter sempre isso. Portanto, eu não acho que são 2 vitórias – uma para o Campeonato, com o Arouca, e uma com o Tondela – que nos dão algum tipo de estabilidade. Honestamente, não penso. Temos de seguir o nosso caminho, o nosso caminho é feito de um jogo atrás de outro, atrás de outro. Agora temos Guimarães. Vitória [SC] em Guimarães é sempre muito difícil. Mas eu também não quero nunca que a equipa sinta – com 2, ou com 3, ou com 4, ou com 10 vitórias – estabilidade. Não quero, não quero. Quero que a equipa sinta instabilidade no sentido de o próximo jogo é para ganhar, e temos de ganhar o próximo. Não vamos ganhar sempre, mas a mentalidade que eu quero é essa mentalidade de exigência, e talvez por isso alguma vez eu possa dar algum toque, como vocês já perceberam que às vezes dou algum toque no sentido crítico. Mas, pronto, vamos em frente, sábado há mais!"

Texto: Redação
Fotos: Cátia Luís e Isabel Cutileiro / SL Benfica
Última atualização: 30 de outubro de 2025

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